A relação entre pessoa e ambiente

Vamos falar do nosso relacionamento com os espaços? O quanto estamos inseridos nos ambientes construídos?

 

Por Fernanda Olinto

 

Coluna Fernanda Olinto
Fotos: James Florio | Bienal de Veneza 2018

 

Passamos 87%* do nosso tempo em ambientes construídos, isto é, fechados ou indoor, em inglês. Deste número, quase 70% do nosso tempo é dentro de casa. Já o tempo desprendido em ambientes externos, em contato com a natureza, é de menos de 10%. E isso foi antes de vivermos uma pandemia e lockdown.

 

O que isso quer dizer? Que devemos dar minuciosa atenção aos espaços interiores, os quais experienciamos com tanta frequência, pois eles devem estar adequados às nossas necessidades físicas e emocionais. Ou seja, nossos lares, ambiente de trabalho e espaços de lazer, vivenciados com abundância, precisam ser escolhidos e projetados para nos dar suporte, auxiliando no nosso bem-estar individual.

 

É inviável desassociar pessoa de ambiente. E essa relação que temos com os espaços é uma relação recíproca, de incentivo e estímulos mútuos. Nós modificamos os ambientes e eles têm o poder de condicionar nossas vidas. Por isso que devemos pensá-los com cuidado, os ambientes que frequentamos são fatores definitivos para explicarmos e compreendermos nosso comportamento.

 

Devemos, portanto, prestar atenção na influência dos espaços sobre nosso viver, pois os ambientes têm o poder de limitar, ampliar e determinar atitudes individuais. Assim como também, a força de estimular ou deter o desenvolvimento pessoal e de relações sociais. E, ao tomar essa consciência, podemos modificá-los a nosso favor.

 

 

Vamos de exemplos. É possível perceber quando adentramos um espaço e imediatamente nos sentimos desconfortáveis nele, pode ser por causa da iluminação que ofusca o olhar; a acústica que incomoda o ouvido; o conforto térmico que foi ignorado; ou porque simplesmente a cor da parede é uma que desanima você.

 

Outro exemplo. Vamos à um restaurante, mas as relações interpessoais não se desenvolvem facilmente. Às vezes é porque a cadeira que estamos é desconfortável; ou o som do ambiente está desagradável e alto demais; ou simplesmente porque a disposição da circulação do espaço interfere no nosso interagir com os outros.

 

Já passou por essas sensações? Às vezes elas são amenas, às vezes vivemos ela todo dia no nosso ambiente de trabalho. E, sem perceber, nos guiamos para um caminho de irritação, ou mau humor, simplesmente pelo desconforto ambiental presenciado. Tudo isso não é culpa sua, é trabalho do design. E um bom design sempre considera a relação pessoa e ambiente.

 

Somos seres urbanos, uma espécie indoor, e estaremos sempre sendo influenciados pelos espaços que construímos e decoramos. A vantagem é que podemos escolher os ambientes que frequentamos, e modificar os espaços em que vivemos. Buscando, assim, um resultado melhor para nós mesmos, é só preciso estar atento às exigências de nossos sentidos, às sutilezas de nossas emoções, e as pequenas atitudes que tomamos à partir deles.

 

Por mais desmedido que possa parecer, os espaços têm força e a decoração tem poder quando falamos de comportamento. E 87% do seu tempo precisa ser bem aproveitado para uma melhor qualidade de vida.

 

Teste. Mude algo em sua casa, busque um restaurante que se sinta mais confortável, e depois me conte o que sentiu…

 

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Fernanda Olinto é designer de produto e de interiores e mestre em Arquitetura e Urbanismo

 

Fonte:
 *KLEPEIS, N., NELSON, W., OTT, W. et al. The National Human Activity Pattern Survey (NHAPS): a resource for assessing exposure to environmental pollutants. J Expo Sci Environ Epidemiol 11, 231–252 (2001). https://doi.org/10.1038/sj.jea.7500165
STEG, Linda. DE GROOT, Judith. Environmental Psychology: An Introduction. Willey-Blackwell: New Jersey 2019.

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