De Alagoas para o mundo

Entrevistamos o designer Tavinho Camerino, único brasileiro entre os quase 600 designers selecionados por Marva Grifin para o Salone Satellite de Milão

 

O designer Tavinho Camerino
Tavinho Camerino e sua Poltrona Arreio, de design experimental | Fotos: Jonathan Lins.

Em sua segunda participação no SaloneSatellite, na Semana de Design de Milão, Tavinho Camerino levou mais uma vez um pedacinho de sua terra natal, Alagoas, para o mundo. O designer apresentou a coleção Arreio, composta por três peças: a Poltrona Arreio, a Luminária Rebenque e a Luminária Cabra, todas produzidas com elementos encontrados nas feiras livres do sertão de Alagoas.

 

Luminária Rebenque, produzida a partir da união de chicotes de couro

 

O profissional, que possuí exposições e prêmios no currículo, tem como uma das suas características a aposta na união de técnicas tradicionais do “feito a mão” de artesãos alagoanos com as inovações industriais, integrando novos elementos já existentes às peças. Essa singularidade chamou atenção de Marva Griffin, curadora da exposição do SaloneSatellite, que selecionou o brasileiro para integrar o time de expositores.

 

Nesta entrevista exclusiva, o designer Tavinho fala sobre a carreira, as inspirações e o que vem por aí. 

 

Como se deu sua conexão com o design? Quais são suas referências?

Sempre fui muito ligado às artes. Quando criança participei de cursos de pintura e esculturas com o Mestre João das Alagoas. Minha primeira referência de design foram os Irmãos Campana. Minha mãe me apresentou a Poltrona Favela há muito tempo e isso é umas das maiores referências que tenho de mobiliário e design brasileiro. O design de mobiliário começou pra mim em 2017 ainda na faculdade (NR: o profissional é formado em arquitetura), quando desenhei algumas peças para o espaço de uma amiga na CASACOR de Maceió. Desenhei e produzi, já em parceria com artesãos, mesas, banquetas e prateleiras para um espaço de cervejaria da mostra. Depois fui participante de concursos e mostras, e não parei mais.

 

Você atuou no programa “Alagoas Feita à Mão”. Como foi o trabalho no programa? Qual a importância dele para sua carreira e para a cultura do estado de Alagoas?

No programa “Alagoas Feita à Mão” trabalhei em diversas áreas, desde a produção de eventos e feiras, até a curadoria para alguns projetos. A participação no programa me aproximou muito do artesão alagoano; tanto conheci trabalhos diferentes como passei a perceber as necessidades e desejos das comunidades e artesãos. Para a minha carreira isso foi muito importante, pois passei a entender que o design tem o poder de transformar, e por meio dele eu poderia ajudar o artesão na geração de renda e colocando o artesanato em destaque junto ao design, valorizando a cultura.

 

Em 2022 você participou pela primeira vez do Salone Satellite. Este ano, esteve presente novamente. Como foi para você participar dessas edições? 

Expor em Milão é o sonho de todo designer. Na primeira vez (em 2022) eu não tinha muita noção da importância e do destaque que o Salone Satellite tem. Por exemplo, Sergio Matos e Pedro Franco são dois nomes brasileiros que já passaram pelo Satellite. Hoje sou o único brasileiro, entre quase 600 designers do mundo inteiro, selecionado na curadoria da Marva Grifin, expondo no Salone Satellite, e com design autoral nordestino. Isso é uma honra para mim.

Cadeira Arreio do designer de Alagoas Tavinho Camerino

Poltrona Arreio, de design experimental. Com hastes de aço, utilizadas para dar forma à peça, a estrutura é feita de arreios de pendurar sinos em vacas. O couro utilizado apresenta um aspecto rústico e marcante, com suas imperfeições e texturas naturais. Para arrematar, as almofadas são feitas em tecido de linho, o que confere uma harmonia perfeita ao conjunto

Conte um pouco sobre a coleção Arreio, apresentada nessa última edição da semana de Design de Milão. 

A coleção Arreio foi fruto de meus passeios pelo sertão alagoano. Um design experimental onde usei elementos encontrados em feiras livres, nas barracas de arreios e acessórios para vaqueiros e montarias. A ideia foi levar objetos do dia a dia do sertanejo para as peças, dando novos usos para esses elementos artesanais. São chicotes, cintas de arreio, fivelas e tiras de couro, todas naturais e com produção artesanal.

 

Você também é cofundador do coletivo Borogodó. Fale sobre ele e de como se deu a união com esses outros profissionais.

Em 2017, na minha primeira exposição, a Novos Talentos Brasileiros, no Rio de Janeiro, nos conhecemos e dali em diante montamos o grupo. Somos atualmente nove nomes do design espalhados por todo Brasil, entre designers e estúdios, e sempre estamos em contato discutindo novos caminhos, nos ajudando e compartilhando experiências. Já participamos de eventos juntos e pretendemos criar uma coleção coletiva em breve.

 

O que vem por aí? O que está desenvolvendo nesse momento?

Neste momento, pós Salone, estou focado em iniciar a produção de algumas peças autorais já lançadas anteriormente, mas que agora vão ser distribuídas para galerias em Londres e NY. Também estou desenvolvendo algumas peças para a indústria e já pensando no que irei apresentar na minha terceira e última participação no SaloneSatellite de 2024. Minha ideia é preparar algo participativo, onde os visitantes possam contribuir com o meu design. Vamos aguardar!

 

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