Lar-coleção

No apartamento do arquiteto Raphael Assaf, no Leme, Rio de Janeiro, design, arte e memórias pessoais se sobrepõem em camadas visuais e sensoriais, criando um lar que celebra a convivência


O arquiteto Raphael Assaf transformou seu apartamento de 78 m² no Leme, no Rio de Janeiro, em um lar-coleção onde arte, design e memória se encontram.

O arquiteto Raphael Assaf com seu cão, Marcelo | Fotos: Leila Viegas

O principal desejo de Raphael era deixar o apartamento mais fluido, promovendo a integração da cozinha com a sala, uma modificação pequena, mas que fez enorme diferença na área social.

Apenas a cozinha e o banheiro foram reformados, enquanto os demais cômodos receberam renovação por meio de pintura e reposicionamento de pontos elétricos. O resultado é um espaço que une sala, cozinha, banheiro social, quarto principal e quarto de hóspedes, com um conceito que foge de estilos ou tendências específicas.

“Proponho uma verdadeira ‘casa-coleção’, onde cada escolha traduz minha identidade pessoal”, explica Raphael. “Arte, design e vida se sobrepõem em camadas visuais e sensoriais, criando um lar que celebra a convivência, o cotidiano e o prazer de habitar com estilo, afeto e memória.”

A decoração reúne peças guardadas do apartamento antigo, como o banco Iaiá, de Gustavo Bittencourt, as icônicas banquetas Girafa, de Lina Bo Bardi, e um tapete iraniano antigo. A seleção de móveis novos privilegia conforto aliado ao design autoral, como a poltrona Arbatax, assinada por Fernando Mendes. “Gosto de peças com design bem resolvido, que tenham personalidade e, ao mesmo tempo, sejam extremamente confortáveis”, comenta Raphael.

A paleta de cores valoriza a sensação de aconchego, identidade e ousadia, tendo o verde — sua cor favorita — como elemento fundamental. Usado para criar profundidade e uma moldura dramática entre cozinha e sala, o tom ressalta o mobiliário, as plantas e os objetos decorativos, em harmonia com a madeira clara e revestimentos neutros.

Na sala, o sofá amarelo surge como ponto focal, trazendo calor, vitalidade e um toque de irreverência. “Essa liberdade estética me transmite acolhimento, criatividade e personalidade”, destaca o arquiteto.

Entre os detalhes que conferem personalidade à casa, destacam-se as obras de arte espalhadas por todos os ambientes — inclusive no banheiro. Raphael é apaixonado por arte gráfica, especialmente trabalhos que exploram tipografias, e construiu esse acervo ao longo de dez anos, com peças garimpadas em feiras, viagens e diretamente com artistas. Entre seus favoritos estão “Shangri-la ou aqui?”, do Felipe Morozini, inspirado no livro Horizonte Perdido, e um bordado com o rosto de seu cão Marcelo, presente especial de um amigo.

A sala conta com uma bancada multifuncional no vão que integra os ambientes, intensificando a entrada de luz natural e ventilação na cozinha, que ganhou armários em carvalho e rosa claro e uma bancada em granito preto São Gabriel escovado, material que surpreendeu o arquiteto pela beleza discreta e praticidade.

No quarto principal, a cabeceira estofada ganha uma pintura geométrica em tons quentes que abraça também as mesas laterais, formando uma moldura acolhedora. Uma mesa estrategicamente posicionada junto à janela serve como espaço para home office, iluminado por arandelas direcionáveis que mantêm o visual leve e funcional.

No banheiro social, o revestimento verde aplicado pontualmente e o teto pintado na mesma cor criam um efeito contemporâneo e imersivo, enquanto os quadros trazem personalidade irreverente a um ambiente geralmente esquecido.

“Projetar a própria casa é quase um confronto íntimo”, revela Raphael. “Meu impulso natural é trazer todas as referências que amo, mas o maior desafio foi equilibrar identidade e contenção. Foi preciso selecionar cuidadosamente o que entraria ou não, criando ritmo, hierarquia e mantendo a coerência visual.”