Por Thais Ruiz, colunista*
Nem bem pegamos nosso diploma e somos tomados pela imensa vontade de criar. O que é mais efervescente que a cabeça de um recém-formado de arquitetura e design?
Saímos cheios de ideias, quase que planos de dominação mundial pelas forças da arquitetura, e imediatamente somos engolidos pelos desejos mais comuns e comerciais dos nossos clientes.
Um briefing aqui, uma foto ali, um ‘ajustezinho’ acolá e, pronto, nasce mais uma fachada igual as outras 375 daquele condomínio. A alma criativa até sofre, mas lembra dos boletos e segue o jogo com a esperança de que no próximo, ah sim, no próximo tudo será diferente.
Mais um briefing chega para animar e mais uma vez aquelas referências comerciais bem características da “moda” chegam junto para desanimar o profissional ansioso pela possibilidade da criação.
A falta de segurança e a necessidade de entrar no mercado quase sempre são as justificativas para os atendimentos das solicitações corriqueiras dos clientes que buscam, na maioria das vezes, a mesma estética do lote vizinho.
A alma criativa vai ficando presa nesse ciclo, o olho vai se acostumando com o padrão e o desânimo faz a vontade de propor coisas novas esmorecer. Para que? Se eu vou ter que mudar e colocar um revestimento 3D nesta fachada!
Depois de um tempo aquele profissional de perfil criativo se rende ao perfil de projetista refém da mediocridade dos projetos carimbados, provocando o choque de nós, criativos resilientes, que sofrem com a monotonia dos visuais repetitivos ofertados na atualidade.
A cada placa que eu vejo com imagens renderizadas, que parecem ter somente suas cores alteradas de um lote para outro, me pergunto se o perfil daquelas pessoas que irão habitar aquelas casas é também tão parecido.
Se projeto é para ser personalizado e está tudo tão igual, chego à conclusão de que temos um problema e esse transcende à arquitetura; ele passa pelo inconsciente coletivo e pela necessidade de se encaixar em um padrão.
Cabe a nós e a nossa autonomia profissional lembrar diariamente que projetamos para o indivíduo, e que a moda é um fator, mas não pode ser o único nas definições estéticas do nosso trabalho.
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Thais Ruiz é arquiteta. Ela compartilha o dia a dia de obras e inspirações no Instagram @vida_de_arquiteta