Tetos fora do comum

Foi-se o tempo em que os ambientes tinham lajes e forros predominantemente brancos e sem graça. Em vez de ocultá-los, os projetos dos novos tempos buscam valorizar o teto, conforme revelam as boas ideias garimpadas nesta reportagem de it HOME

 

Texto: Dan Brunini e Janaína Silva

 

Diferentões, os tetos são destacados por meio de pinturas coloridas, revestimentos e elementos arquitetônicos em vários espaços, como salas, quartos, lavabos, banheiros e halls de entrada. A estratégia ousada não só enfatiza a busca por aconchego como evidencia a personalidade dos moradores. Ora divertidas, ora sutis, as boas ideias transformam forros e lajes na atração do ambiente, ganhando ainda mais destaque com o uso da iluminação e quando as paredes são contrastantes. Não há regras sobre o recurso ideal, mas vale considerar as dicas dos especialistas sobre a possibilidade de reduzir a sensação de amplitude do ambiente, conforme a cor ou o elemento adotado.

 

 

Baixo custo e grande impacto

teto amarelo
Foto: Mariana Orsi

 

Na reforma deste apartamento, para setorizar a sala e gerar um contraste com a tonalidade azul usada na cozinha, o teto recebeu o tom Ocre Colonial, da Tintas Coral. As arquitetas Débora Terra e Jessica Lucas, do Studio 92 Arquitetura, comentam que a estratégia possibilita a criação de diversas sensações, com baixo custo e grande impacto. “Nem sempre a noção de rebaixamento é ruim: se ao delimitar um ambiente, a impressão de caixa fica mais evidente, isso resulta em aconchego. Tudo depende das proporções do espaço e da nuance escolhida”, diz Débora. Nesse caso, a cor quebrou a formalidade e inseriu personalidade.


 

Ripado valorizado pelo led

ripado no teto
Foto: Gustavo Awad

 

A proposta da designer de interiores Marcela Rocca para esse lavabo era surpreender quem entra. Assim, não só substituiu os revestimentos, optando pelo porcelanato escuro Nero (Portobello), que remete ao mármore, como definiu um ripado de madeira em forma de L para cobrir a parede da bancada (desde o piso) e o teto. Além do efeito de continuidade, o material é valorizado pela iluminação de perfis de led (Yamamura). Segundo Marcela, trabalhar o teto com revestimentos diferentes e até uma cor mais ousada é um recurso comum em muitos países e começa a ganhar vez aqui no Brasil. “Nuances claras deixam o pé-direito mais alto enquanto as escuras rebaixam e o tornam mais aconchegante”, ensina a profissional.


 

Boas-vindas com alto astral

hall todo amarelo
Foto: Júlia Ribeiro

 

O hall interno todo em amarelo mostarda (cor Juba de Leão, da Suvinil) tornou o cartão de visitas do apartamento um dos espaços mais elogiados por quem chega. “A ideia surgiu para enquadrar a área e transformar um simples corredor numa entrada fora do comum. Para isso, usamos a mesma tinta em paredes, portas e teto, criando um elemento único em contraste ao piso com visual de madeira”, esclarece a arquiteta Carolina Lorenzato, sócia de Larissa Monzú no escritório Degradê Arquitetura e Interiores. Para quem teme a impressão de confinamento, a arquiteta diz que é possível amenizar a sensação tonalizando apenas uma parte do teto.


 

A prevalência das nuances

banheiro retro
Foto: MCA Estudio / Denilson Machado

 

Na reforma deste banheiro, como as paredes seriam revestidas com azulejos brancos, a ideia do Estúdio Amadas foi ousar e pintar o teto. Para não influenciar na percepção espacial, o tom Pinheiro (Suvinil), que é mais claro que o Harpia, usado no gabinete, foi o escolhido. A recomendação do escritório é usar cores claras ou intervenções suaves para não afetar os espaços com pé-direito baixo. “Cada vez mais, busca-se construir ambientes para traduzir a essência do cliente, com autenticidade. Então, independente da tendência, entendemos que, se a solução ficar harmoniosa e alinhada com o conceito do projeto, devemos ir em frente”, conta Lisane Heineck, sócia de Juliana Mandur.


 

Cor para estimular os sentidos

Teto verde no quarto infantil
Foto: Mariana Orsi

 

Levar cor para o alto permitiu deixar as paredes no branco e investir num décor com quadros, adornos e desenhos da criança. “Como uma tela branca, essa solução possibilita diferentes composições, sem perder a graça”, conta a arquiteta Danielle Otsuka, à frente do escritório Lilutz Arquitetura. Sinônimo de calma, harmonia e bem-estar, o verde (Sherwin-Williams) coloriu teto e também o barrado, que recebeu a prateleira mais alta, destinada aos bichinhos e outros itens decorativos. “Os tons mais claros ampliam e as cores com base fria tornam o ambiente mais aconchegante e tranquilo, enquanto as quentes estimulam os sentidos”, indica Danielle.


 

Duo de tons e acabamentos

teto do banheiro laranja
Foto: Gisele Rampazzo

 

Nesse lavabo, o projeto da Pixel Arquitetura elaborou dois planos: o primeiro, piso e meia parede de ladrilho hidráulico; o segundo, meia parede e o teto na mesma cor (Terra molhada, da Suvinil). Por ser um espaço pequeno, a tonalidade tornou-o mais impactante. “Se ele fosse branco não teríamos esse efeito, seria um teto sem graça. A solução agrega valor e personalidade”, comenta a arquiteta Patrícia Campanari, sócia de Alice Monte. Os matizes alegres acabam iluminando o ambiente”, continua. Outro bom uso é subir a cor da parede quando não se quer criar uma divisão. “Tudo depende da proposta desejada. Porém, sugerimos evitar os tons escuros para não dar a sensação de rebaixamento”, conta Alice.


 

Ênfase no mobiliário

Quarto de casal todo azul
Foto: Gabriela Daltro

 

A suíte do casal ganhou atmosfera única com paredes e teto na mesma tonalidade azulada: Cerração, da Suvinil. A solução destacou a cabeceira estofada e contrastou com os demais acabamentos amadeirados. “Gostamos do recurso de repetir a cor em parede e teto, deixando para que os móveis e as obras de arte se sobressaiam”, afirma o arquiteto Hugo Ribeiro, que junto de Luiz Claudio, compõe o escritório Sinta Arquitetura.


 

Concreto aparente trouxe o ar industrial

teto de concreto aparente
Foto: Mariana Orsi

 

Na reforma, a laje nervurada foi descoberta ao retirar o forro de gesso e combinou perfeitamente com o estilo descolado e industrial que os irmãos queriam imprimir ao apartamento. “Era o mood que estavam buscando e que valorizou o projeto. A estrutura estava em ótimas condições e foi mantida em concreto aparente, recebendo tinta que imita cimento queimado. Além disso, aumentou o pé-direito”, comenta a arquiteta Renata Nascimento, sócia de Débora Pinheiro no escritório Red Square. A iluminação empregou calhas e luminárias aparentes, no tom cinza, para evidenciar o elemento e destacar apenas os pontos de luz.


 

Bolinhas da parede ao topo

quarto infantil com papel de parede
Foto: Kadu Lopes

 

Lúdico, com móveis soltos e repleto de referências à predileção do garoto, como os diferentes modelos de carrinhos, este dormitório projetado pela arquiteta Ana Rozenblit, do Spaço Interior Arquitetura & Interiores, tem vários detalhes personalizados. Ele foi idealizado para atender as necessidades de descanso e brincadeiras e, também, para acompanhar as etapas de crescimento. A escolha do papel de parede com bolinhas, que está presente também no forro, adicionou singularidade à proposta e envolveu todo o imaginário infantil. “A ideia foi trazer um ar moderno e ao mesmo tempo minimalista para o quarto”, afirma a Ana.


 

Entre texturas e contrastes

 

Repaginado pós-pandemia, o apartamento em que o arquiteto Renato Mendonça mora há 18 anos, em São Paulo, ficou ainda mais acolhedor e cheio de carga afetiva. “Da arquitetura à curadoria das peças de design e materiais, tudo traz uma referência do passado, mas com um novo olhar”, conta o arquiteto, que adora brincar com texturas e contrastes. No living, o concreto aparente nas colunas e vigas ganha como contraponto um teto elaborado com painel de madeira com frisos, que aquece e deixa o espaço mais convidativo.

 

 

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