Por Fernanda Olinto*, colunista
Nas palavras de um grande, renomado e conhecido arquiteto chamado Le Corbusier, “arquitetura é emocionar”.
É ao emocionar que, ele também ressalta, todo morar pode ser um palácio. É pela sensação que ele transmite, não pelo tamanho. É qualidade e não quantidade. Se uma edificação possui uma arquitetura de qualidade, ela provavelmente emociona a quem ela adentra. Um palácio emociona – segundo Corbusier. Todos podemos viver em palácios.
O instinto primordial de todo ser vivo é de se assegurar num abrigo. A arquitetura, então, sendo uma das mais antigas e urgentes necessidades do homem, visto que a casa sempre foi indispensável, desenvolveu-se para ser mais que apenas um abrigo. Ela sempre foi mais que uma cobertura sobre nossas cabeças, mais que formas para proteger-nos de intempéries, mais que volumes contra inimigos. Para estes não se precisava de arquitetura, isto já existia antes da arquitetura, portanto, retomamos o seu papel único, além do fundamental, de emocionar.
Sendo assim, a arquitetura poder ser vista como uma intenção. Intenção de ressignificar cada órgão de uma casa, pela qualidade de sua disposição em um conjunto completo e harmônico. Intenção bem feita, que gera grandeza e nobreza pelo seu partido e consequente sucesso. Emocionando pela grandeza da intenção. Emocionando pela qualidade da intenção.
O arquiteto, ordenando formas e volumes, realiza uma ordem que é uma pura criação de seu espírito. É por meio daquelas que ele afeta intensamente nossos sentidos, provocando emoções plásticas. Pelas relações e reações que ele cria, ele desperta em nós ressonâncias profundas, nos dá a medida de uma ordem que sentimos em consonância com a ordem do mundo, determina movimentos diversos de nosso espírito e de nossos sentimentos. E é então o momento em que emocionamos, que sentimos a beleza.
Porquê incondicionalmente uma casa cresce para ser uma valiosa testemunha de momentos de vida memoráveis. Ela é um santuário físico e psicológico. Uma guardiã de nossa identidade. E seremos emocionados de maneira errônea, e muito acontece, infelizes por habitar casas mal intencionadas, indignas de receber nossa vida. Indignas de abrigar nossa história. Indignas de acalentar nossas aflições. Porque elas, sem a arquitetura, arruínam nossa saúde e nossa moral.
No entanto, a arquitetura existe. A arquitetura salva. Coisa admirável, a mais bela. O produto dos povos felizes e o que produz povos felizes.
As cidades felizes têm arquitetura. E neste ponto do texto eu faço questão de acrescentar que o design de interiores também deve ser visto desta forma. Um cômodo mal projetado, inadequado, possui o poder de ressaltar um dia ruim, cinza, e espelhar todas as profundas tristezas da vida. Nos guia a lembrar da maldade existente, dos problemas possíveis e nos põe para baixo, desesperançosos pelo meio. Em meio à tantas possibilidades.
Na maior parte das vezes, evitamos enxergar a fundo os ambientes os quais passamos diariamente, fechamos os olhos para evitar angústia. Enquanto um cômodo bem projetado pode suportar qualquer momento de desespero. Com brilho, com luz, com vida. Abraçados pelo meio. Um cômodo pode nos convocar a ser feliz nos primeiros passos, ao adentrar outros somos convidados a relaxar, a se soltar, a curtir. Atmosfera são criadas, o design convida mas não dá ordens, ele sugere mas não cria leis.
A arquitetura é um fato de arte, um fenômeno de emoção, fora das questões de construção – além delas. A construção é para SUSTENTAR; a arquitetura é para EMOCIONAR. Para isso, é preciso acreditar na importância da arquitetura para a felicidade. É para auxílio na noção de quem somos, onde estamos e onde queremos chegar. Essa é a maior dificuldade de ser um bom arquiteto ou designer de interiores.
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*Fernanda Olinto é designer de produto e de interiores e mestre em Arquitetura e Urbanismo
Fontes:
DE BOTTON, Alain. A arquitetura da felicidade. New York: Vintage Books, 2006.
*LE CORBUSIER. Por uma arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2014.