Será que perdemos alguma coisa no caminho?

Por Thais Ruiz, colunista*

 

Imagino que não sou só eu que volto de viagem sempre com alguma mudança na minha forma de olhar o mundo.

 

Desta vez não foi diferente, mas voltei com um novo olhar para as pessoas.

 

A arquiteta Thais Ruiz

 

Tive alguns dias de folga e minha cabeça só fez pensar nas diferenças de comportamento, habilidades e capacidades que a humanidade apresenta com o passar de centenas de anos.

 

É absolutamente intrigante olhar para construções magnânimas pensando que elas foram feitas sem auxílio de tecnologia, ou melhor, sem energia elétrica. Impossível que eu não faça uma comparação simples com as imensas dificuldades que enfrentamos diariamente buscando acabamentos bons para as obras da atualidade.

 

É algo de pirar a cabeça pensar que subir uma geladeira nova para o primeiro andar pode gerar um desconforto imenso entre equipes e clientes e não se questionar o que foi necessário fazer para que uma cidade inteira tenha sido construída em pedra no topo de uma montanha. Como os cortes em blocos de granito foram feitos sem grandes máquinas quando ainda pegamos peças de porcelanato lascadas e instaladas na esperança de que ninguém note ou que o cliente aceite muitas vezes pelo cansaço do desgaste de uma obra morosa e invariavelmente tensa.

 

 

Não posso acreditar que somente o terror dos líderes ditadores era o que garantia um exímia execução; realmente me recuso. Evoluímos tanto como sociedade de lá para cá que é uma pena pensar que o capricho foi o que deixamos pelo caminho.

 

Meu pensamento vai na direção do orgulho por ter feito algo grande, imagino a satisfação de ver pronto e pensar “Eu que fiz”, muito pela forma que eu lido quando vejo meus projetos prontos.  Eu fico orgulhosa e isso para mim é fundamental.

 

É claro que nessa reflexão toda vamos chegar no item prazo da obra: nada era tão urgente em tempos passados e hoje tudo é tratado como se o fim do mundo estivesse logo ali, e talvez se continuarmos por este caminho que estamos indo, talvez esteja mesmo.

 

Agora, uma coisa é fato, bagagem nos traz poder de argumentação e a cada ruína que conheço, cada igreja, cada museu, minha bagagem aumenta; e hoje, mais do que nunca, me convencer que usar cantoneira metálica para esconder acabamento de revestimentos mal feito é a única solução, será mais difícil para não dizer impossível.

 

Quero acreditar que a única coisa deixada para trás na evolução da construção foi o terror e a escravidão e que ainda temos capacidade de fazer acabamentos primorosos desde que tenhamos ferramentas, tempo e remuneração correta para isso.

 

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A arquiteta Thais Ruiz

 

Thais Ruiz é arquiteta. Ela compartilha o dia a dia de obras e inspirações no Instagram    @vida_de_arquiteta

 

 

 

 

 

 

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