Psicologia e design de interiores

O design de interiores nos transforma e deve-se dar atenção aos efeitos psicológicos que estas questões podem acarretar à nossa vida

 

Por Fernanda Olinto

 

Teatro visto de uma forma diferente, do palco para o público | Foto: Klaus Frahm

 

Ressaltei, na minha estreia aqui como colunista, a indissociabilidade de pessoa e ambiente. Um texto sobre nossa relação com os espaços, onde ambos caminham juntos e se influenciam mutuamente. Hoje, vamos discorrer sobre a forma como essa influência pode ocorrer no nível psicológico.

 

O aporte da psicologia é essencial para áreas que lidam diretamente com pessoas, e isso inclui o design de interiores. Quem já não ouviu falar em como designers e arquitetos são, muitas vezes, uma espécie de psicólogos para seus clientes? É comum devido ao fato do relacionamento com o cliente se tornar muito pessoal, ao lidar com questões íntimas envolvendo casa, rotina e família.

 

A psicologia, ao unir-se com o design, não tem o intuito de se tornar uma terapia, mas auxilia em algumas descobertas que se tornam válidas no processo de projeto, principalmente na busca de um resultado mais relevante para o cliente. Então, procurando explorar a relação pessoa e ambiente mais profundamente, e também cliente e profissional, duas vertentes da psicologia fazem esse papel. São elas: a psicologia ambiental e a psicologia do design, respectivamente.

 

O design de interiores, como conhecemos tradicionalmente, foca em estética, moda e funcionalidade. Porém, as áreas citadas anteriormente foram pioneiras em enxergar além disso. Elas iluminaram o campo para pensarmos no processo de uma maneira díspar, salientando a importância de ornar, com equilíbrio, as necessidades básicas comuns a todos os indivíduos e as particulares, de personalidade e histórico pessoal.

 

Naturalmente nos inclinamos a optar por espaços os quais nos sentimos pertencidos ou familiarizados. No nível da psicologia ambiental, regulamos essas preferências por questões como privacidade, territorialidade, espaço pessoal, entre outros. Já no nível da psicologia do design, afirma-se que somos atraídos por qualidades particulares que vivenciamos em experiências passadas, principalmente durante a infância.

 

Nos espaços aos quais estamos inseridos com muita frequência, como nossas casas, todos os componentes nela existentes realmente importam. Desde cor, iluminação, materiais, texturas, layout, até os objetos ao nosso redor e o estilo de decoração que escolhemos. Estas não são meras decisões, são parte de nossa identidade. O design de interiores nos transforma e deve-se dar atenção aos efeitos psicológicos que estas questões podem acarretar à nossa vida. Pois é possível que os resultados sejam produtivos e benéficos psicologicamente, nos instigando a crescer, ou podem ser opressores e catalisadores de alguma condição negativa, a qual poderíamos evitar por meio do design.

 

Quando se contrata um profissional de design de interiores, é esperado mudança. Mudança nos ambientes moldam o contexto e assim, sua casa muda e você muda. É um estado de transformação e evolução pessoal e, consequentemente, psicológico também. Com isso, ao complementar o processo do design de interiores com insights da psicologia, pode-se projetar com mais cuidado, e ainda mais intimidade. Criando espaços que são eficientemente significativos, de forma coerente, elevando a personalidade e senso de pertencimento individual. Cabe ao profissional adaptar as metodologias de projeto da psicologia ambiental e do design para atingir o resultado ideal para cada cliente específico. Nos próximos textos vamos abordar alguns métodos utilizados por ambas as áreas que permitem estas descobertas, auxiliando, assim, na busca contínua de nossas vidas por um estado de completude psicológica.

 

Para sermos nós mesmos em totalidade, o lugar que moramos deve ser reflexo desse processo. Fazemos uma extensa seleção de objetos e lugares, da mesma forma que fazemos com pessoas. São escolhas sérias e minuciosas. Moldamos, criamos e trocamos os cenários em que vivemos para o autoconhecimento em seu mais alto estágio. São cenários decorados e palcos montados para diferentes “atos” ou períodos da vida, à procura de nos vermos refletidos no ambiente à nossa volta.

 

***

Fernanda Olinto é designer de produto e de interiores e mestre em Arquitetura e Urbanismo


Fonte:
GALLAGHER, Winifred. The power of place: How our surroundings shape our thoughts, emotions, and actions. Poseidon Press: New York, 2007.
ZONIS, Shirlei. Arquitetura no divã: a quarta dimensão do espaço. Olhares: São Paulo, 2018.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

LEIA TAMBÉM